sábado, 26 de dezembro de 2009

UM DESENHO QUE MUDOU MINHA VIDA

Eu tinha 16 anos, estudava no Colégio Estadual de Manhumirim e sempre era chamado para discursar nos eventos cívicos que aconteciam todo dia sete de setembro em frente a escola. E no ano em questão não foi diferente, fiz um caloroso discurso defendendo as artes, a cultura e criticando os coronéis da política e principalmente as pessoas que sempre usaram o poder em benefício próprio. Na minha ingenuidade de adolescente eu citava nomes dos governantes, falava o partido político e ainda não tinha a diplomacia que a vida vai ensinando a gente. Os alunos gostavam e iam ao delírio retribuindo com aplausos, gritos e muita vibração. Notei que um de meus professores não gostou muito das coisas que falei naquele dia. Chegou a comentar dentro de sala que eu era "metidinho a dono da verdade e que gostava era de aparecer". Não me importei com as críticas e ainda fiz um desenho dele com sua pasta e seu cigarrinho que era o seu companheiro inseparável. Estou me referindo ao meu professor de matemática, Lino Silva. Algum colega meu, que não me lembro pegou o desenho e mostrou para ele que em vez de reagir de forma bem humorada, ficou irado e prometeu que ia me dar pau. E foi o que aconteceu, ele rasurou todo o diário de classe, que em grande parte escrevia todo a lápis e me reprovou. Naquele ano eu já havia passado em todas as matérias, mas fui reprovado em matemática porque as notas que ele anotou no diário não me davam direito nem à recuperação. Reclamei na Delegacia de ensino, mas no dia em que marcaram uma reunião com meus pais, a Delegada de Ensino D. Vera Godinho, o diretor do colégio Estadual Professor Washington Hubner França e o Professor Lino, eu estava trabalhando no Rio de Janeiro. A delegacia de ensino mandou um ofício para os meus pais com uma data e, não sei se com má fé, anteciparam a reunião sabendo que eu não estava na cidade e deram ganho de causa para o professor sem ouvir a minha versão. Todos sabiam que o diário de classe foi rasurado, os meus colegas sabiam de tudo e mesmo assim fui reprovado, pois ficaria mal para a escola aceitar os erros cometidos que, lógicamente se tornariam públicos. Pois bem, na época fiquei triste por ter perdido um ano e deixar a minha turma, mas saí do Colégio Estadual e fui para a Escola Normal Santa Teresinha onde as irmãs me receberam de braços abertos, fui um bom aluno muito elogiado pelas freiras e ainda fui eleito Presidente do Grêmio Estudantil do renomado nos dois anos que estudei lá. Lá promovi festas, desfiles, shows e chegamos a produzir um filme de terror "O Embrião Satânico". O trabalho que realizei no Colégio Santa Teresinha motivou o assessor do prefeito Nico Franco, José Jarbas de Oliveira a me convidar para ser o Diretor de Cultura da Prefeitura o que resultou na minha candidatura ao cargo de vereador. Fui eleito duas vezes, sendo o Presidente da Câmara por dois mandatos. É por isso que eu falo, não reclame de algo que te aconteceu, que no momento parece ser ruim, mas que no futuro mostrará o dedo de Deus. Se eu não tivesse saído do Estadual eu não teria conhecido várias etapas da minha vida pública. Há males que vem para bem e hoje guardo este desenho que mudou a história de minha vida.
João Rosendo